O Assassino da Rua 23

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 Iddelat, anni athifiezar! Como vão, meus Lobos queridos? Bem? Mal? Eu vou muito bem e ansiosa! O teatro está andando, amanhã sairei para ver Annabelle com minha irmã/esposa maravilhosa, e irei ao parque, e Domingo é o aniversário de meu pai! Perfeito ♥ (ah, ps: a foto do post vai ser essa pois não achei uma melhor)

 Hoje trago para vocês um conto maravilhoso de halloween (na verdade, não é halloween, é mistério, mas no site que eu encontrei tava na seção halloween), feito pela Joyce Aniceto. Eu o encontrei no site Face do Medo, enquanto procurava sobre contos de Halloween. Leiam sem medo, não tem nada de terror, só mistério. Passe pela Muralha e o leia!

 Era uma noite fria durante o inverno de 1834. As notícias repentinas de haver um assassino vagando por este bairro faziam meu estômago embrulhar ao me lembrar de Clarisse, pois as vitimas eram sempre mulheres ricas, jovens e atraentes, assim como minha linda Clarisse.

 O vento bateu forte em meu rosto, me obrigando a segurar meu chapéu coco para impedir que voasse, enquanto caminhava em direção á casa dela, como me acostumei a fazer toda noite desde que decidimos nos casar a pouco menos de um mês.

 – Clarisse, estou dizendo, você deveria ficar em casa. Pelo menos até a polícia encontrar este assassino. – Disse á ela enquanto ela enchia minha xícara com chá.

 – Não seja bobo. Sabe que minha tia precisa de mim. Está em seus últimos dias. Além disso, deveria se preocupar mais com você. Já não lhe disse para não andar desacompanhado?

 Eu sofria de narcolepsia (é uma condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono e em geral distúrbio do sono). Não eram raras as ocasiões em que cochilava durante o dia, tendo todo o meu corpo paralisado e indefeso. Estava acostumado á isso desde criança e já nem me importava se ficasse inconsciente a qualquer hora do dia. Não podia evitar.

 – Clarisse... as vítimas são mulheres. Faça isso, por favor.

 – Não vou me trancar em casa por causa de um assassino. Tenho certeza de que a polícia irá cuidar disso antes que mais alguém saia ferido.

 Ferir, ela dizia como se fosse o pior que pudesse acontecer, quando na verdade todas as vítimas eram brutalmente assassinadas. Suspirei enquanto pegava meu chapéu e meu casaco, sabendo que nada a faria mudar de idéia.

 – Venha jantar aqui amanhã. Vou pedir para que façam seu prato preferido. – Ela disse quando sai pela porta, acenando para mim.

 Em algum momento da volta, eu sabia que minha visão estava começando a embaçar, senti meus membros pesados e sei que me escorei em um muro e dormi. Era tarde e meu sono se intensificava por causa de minha doença. Tive um sonho inquieto, intensificado por meu medo de perder Clarisse, ouvi gritos e vultos estranhos, acordando assustado ao imaginar sua imagem ensangüentada.

 Não sei como cheguei em minha própria casa, pois ao acordar em minha cama não me lembrava de como havia chegado ali. Talvez fosse algum outro sintoma da doença, eu não podia saber, mas quase sempre quando eu acordava, me via em algum lugar diferente do qual eu estava ao dormir. Era um incômodo, tenho que dizer, as pessoas se afastavam de mim por isso, como se fosse algo contagioso. Em várias oportunidades tive ajuda de conhecidos que me traziam até a presença de algum familiar, mas com o tempo, até estes se afastaram. Mas Clarisse jamais se deixara afetar por meus problemas de saúde e sempre esteve comigo, mesmo quando ainda éramos criança.

 Sabia que ela era a pessoa certa e não havia nada que eu não faria por ela.

 E por isso me preocupei ao ler os jornais no dia seguinte ao descobrir que mais alguém havia sido vítima do sanguinário assassino da Rua 23, como passou a ser conhecido.

 A rua que dera nome á ele era justamente aquela que Clarisse morava.

 A pobre mulher foi encontrada morta, esquartejada em um beco e os pedaços haviam sido abandonados ali mesmo, para quem quisesse ver. Saber que eu havia estado naquela rua, naquela noite, e poderia ter cruzado com o assassino era o pior para mim. Podia ter sido Clarisse. O que eu faria sem ela?

 Preocupado, sai de casa, disposto a convencê-la a morar comigo, pelo menos até que os crimes terminassem. Pouco me importava o que fossem achar se uma mulher solteira fosse morar com um homem sem terem se casado.

 Embora quisesse encontrá-la, sabia que não estaria em casa tão cedo então me contive até que anoitecesse e desse o horário do jantar.

 Estava tão frio que comecei a sentir meus dedos formigarem. O vento batia nas folhas das velhas árvores da rua com seu assobio choroso, dando certo ar lúgubre á paisagem. Olhei em volta, encarando aqueles que passavam por mim e imaginando qual deles poderia ser o assassino. O toque de recolher não me permitiria demorar muito mais se quisesse ter tempo para convencer Clarisse a morar comigo. Era preciso apertar o passo.

 – Você se preocupa demais. Está tarde para sair perambulando pela rua cheia de malas. Estou segura em casa.

 Eu a encarava seu rosto por cima do vaso de flores na mesa. Ela se manteve calma durante todo o jantar e nada do que eu dissesse parecia fazê-la mudar de opinião.

 – Morando sozinha? Clarisse! Por que tem que ser tão cabeça dura? Venha comigo por hoje e amanhã voltamos para buscar suas coisas.

 – Estou tão cansada... Se estiver tão preocupado, por que não fica aqui esta noite? – Ela inclinou a cabeça e deu um meio sorriso para mim. – Estarei segura com você.

 Eu não podia deixá-la sozinha. Não parecia certo. Iria então velar seu sono e impedir que qualquer mal á atingisse. Era a única solução.

 Sentei-me em uma poltrona em seu quarto, abusando da intimidade que nós ainda não devíamos ter. Observei enquanto ela se deitava e se virava para mim, sorrindo e murmurando boa noite ao se cobrir.

 A noite avançava e sua escuridão forçava meus limites. Não iria resistir por muito tempo ao sono, sabia que a qualquer momento poderia ficar inconsciente tendo em vista o mal que me afligia.

 Pensamentos de morte inundavam meu cérebro, me mantendo acordado por alguns instantes. Porém, no momento em que consegui raciocinar direito sem me deixar levar por sentimentalismos, percebi que não era mesmo necessário me manter acordado. Eu estava sendo um bobo super protetor, é claro, o assassino só atacava mulheres que andavam noite afora, não senhoras seguras em suas próprias casas. Eu havia me deixado levar pelo medo, pois ele não era um invasor, apenas um sanguinário sem escrúpulos. 

 Clarisse estava deitada. A luz do luar que entrava pela janela iluminava seus cabelos loiros caídos no rosto, enquanto sua mão pousada sobre o corpo suavemente acompanhava o ritmo de sua respiração lenta de quem já sonha. Eu a olhei com ternura, momentos antes de fechar meus olhos ao perceber que a sensação de dormência causada por meu sono anormal estava começando a me atingir e relaxei na poltrona, sorrindo ao perceber que ela estava segura.

 Ainda estava escuro quando meus olhos se abriram. Ao meu lado jazia Clarisse, ainda dormindo. De alguma forma eu havia me movido até sua cama e me sentado ao seu lado. Mas algo estava diferente. A posição de seu corpo não parecia natural. Ouvi ruídos de passos e ao olhar para frente, havia um homem parado na porta e o coro de uma multidão revoltosa soava pela janela entreaberta. Meus extintos despertaram para um possível suspeito de assassinato fugindo e adentrando na primeira residência que encontrasse.

 Eu poderia defendê-la. Lembrava-me de ter visto uma faca na cômoda perto da cama.

 Ele caminhou até a janela em passos rápidos e bruscamente puxou as cortinas permitindo que toda a luz da lua entrasse no aposento e em seguida se virou, mostrando seu rosto. Eu assistia aquilo sem saber o que deveria fazer ao me deparar com o próprio Chefe da Polícia.

 – O que foi que você fez? – Ele perguntou se dirigindo á mim. – O que foi que você fez? – Ele repetiu mais uma vez.

 Olhei-o sem entender o que queria dizer, por mais que gesticulasse com as mãos e me olhasse incrédulo. Vendo minha reação, ele caminhou até mim, furioso, me obrigando a buscar a faca na cômoda para o caso de algo sair do controle.

 Mas ela não estava lá. Olhei para Clarisse e seus cabelos loiros estavam manchados de vermelho, que também se espalhava por toda a cama. Estava morta ao meu lado, inerte. Sua respiração havia cessado para sempre, porém seu coração ainda forçava o líquido escarlate para fora do corpo, jorrando sobre a cama. Seus olhos me encaravam abertos e apavorados numa expressão de dor e traição que eu jamais poderei me esquecer.

 Não se tratava mais de um caso de narcolepsia, eu logo percebi ao despertar neste cenário. Era um caso de dupla-personalidade em que todo o mal que havia sido acumulado em meu ser havia despertado, de uma forma que eu jamais poderia ter imaginado nem em meus piores pesadelos. Encarei a faca, que ainda segurava em uma das mãos, horrorizado ao perceber os fatos e enterrei-a em meu peito.
Nota da Autora: "A narcolepsia não era uma doença conhecida na época da estória mas eu deixei o termo para não parecer que inventei alguma doença."

34 comentários:

  1. Nossa, estou chocada. Eu jamais imaginaria esse final. Me surpreendi bastante, o conto ficou ótimo e muito bem escrito. Eu simplesmente amei! Muito bom mesmo, vou procurar mais alguns nesse estilo.

    sugar-purry.blogspot.com

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    1. Eu também não! Quando li fiquei tipo "oi?", hehe. Sim, eu amei ele ♥

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  2. O final foi realmente surpreendente! Amei!
    www.dai-sies.blogspot.com

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    1. Nunca imaginei que seria assim, haha. Adoro finais surpreendentes ♥

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  3. Ótimo final, hein. Mas na verdade, desde o começo já esperava que ele fosse o assassino, e vi que meu palpite estava certo. Adorei o conto!
    http://pactoliterario.blogspot.com.br/

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  4. Olá! Estou bem, obrigada por perguntar, aushuahs. Já assisti Annabelle, é muito bom!
    Adorei o conto, o final principalmente ^^

    Beijos, ♡ miki candy。

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    1. Adhahdauhduahduahduhaudhuda. Vi Annabelle ontem, é bom, não deu medo algum, adhauhduadhuhauda. Foi até engraçado.

      O final foi incrível!

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  5. OMG, estou chocada com esse conto! Parabéns para a autora! Mas confesso que já havia previsto o final, sempre achei esse noivo muito suspeito =|
    Gostei do post, obrigada por compartilhar este conto com a gente :)

    Beijo, Joyce.
    http://olhardeumanerd.blogspot.com.br/

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    1. Eu não leio muito suspense, então não previ o final, por isso fiquei bem surpresa. De nada ♥ Foi um prazer trazê-lo, espero poder trazer mais.

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  6. Gente, esse final me surpreendeu um pouquinho sim, mais foi bem pouquinho mesmo. Uma coisa que eu aprendi com vários filmes/contos é que a pessoa boazinha que quer sempre ajudar é sempre a culpada. Mais enfim, gostei bastante do texto, a autora escreve muito bem, que me dera escrever assim... Eu quero muito assistir Annabelle, mas nem um dos meus amigos querem ir comigo e dúvido que minha mãe vá comigo ou me deixe ir sozinha, então o jeito é assistir online mesmo, aff '-'
    Beijos, nsoualice.blogspot.com

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    1. Adhadhaudhauhduhaudhaudhuadhuahdahduahduhauda, isso é verdade. Eu também queria escrever assim... É um bom filme, mas para se ver com amigos, haha.

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  7. Saquei de cara que era ele. Ler suspense demais dá nisso, hahaha! Mas de qualquer forma está muito bem escrito e foi gostoso de ler. Beijos Karla^^

    horadochoco.blogspot.com

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    1. Adhaudhauduaduahduahduhaduahdauhdauhduad. Eu não. Preciso ler mais. É um conto adorável ♥

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  8. Hahahah não acredito que era ele, por um momento eu achei que era ela '-'
    Foi muito bem escrito u3u. Boa para o clima halloween
    s-sessaoproibida.blogspot.com.br ~ sessão proibida ♥

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    1. Adhaudhaudhaudhaudhaudhaudhuadhauhduahdada, bem, é uma boa hipótese. Sim, foi! A autora escreve muito bem.

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  9. Todo mundo anda assistindo Anabelle -não sei se escrevi certo- e eu não acho ela assustadora, só feia mesmo huehue
    Amo histórias e contos de mistério, então consequentemente amei esse tbm *U*
    Quando estava na metade, logo imaginei q ele era o assassino \o/ Amei

    ~September Rains

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    1. Eu também não acho ela assustadora, e até que é bonitinha. O filme não foi assustador, foi engraçado.

      Eu também! Adhaudhaudaudhuadhuahuda, todos menos eu.

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  10. Caraca que show, pena que minha irmã está desistindo de ler Annabelle ;-; teatro? incrível :3

    Que legal o conto :3

    ou seja, nunca durma UHAUHAU' amei demais cara, post perfeito.

    Adolescente Nerd // Oficial { }

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    1. Ler? Adaudahdhadua, tudo bem, eu entendi. Não é assustador, então... Sim, lindo e perfeito ♥

      Muito obrigada ♥

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  11. Espero que o teatro se saia como planejado e que goste do filme. Domingo também é meu aniversário! Deseje os parabéns e felicidades ao seu pai por mim~
    Eu suspeitei dele desde o começo, sdfhsdhf Mas, depois, também me passou pela cabeça ser a namorada dele. É mesmo um maravilhoso texto. Feliz dia do Folclore Brasileiro ou como preferir chamar.
    Até mais.

    Att. Edwi {b-abyboo#}

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    1. Obrigada ♥ E parabéns para você também!

      Adhaduhaudhaudhuahduaduhaduhaudhaudhaudhuahdua. Obrigada, para você também.

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  12. Oi Karla!

    Nossa, me assustei legal com esse final rsrs

    E você escreve muito bem! Continue treinando, que você ainda irá longe :)

    Beijinhos!

    http://livros-cores.blogspot.com.br

    P.S.: você comentou em uma postagem minha, sobre o livro Fangirl. Como consegue colocar as palavras direto como link? Fiquei curiosa, para fazer o mesmo xD

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    1. Eu não escrevi esse conto, é de outra autora. O final é incrível mesmo! :)

      Tutorial

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  13. Que legaaaal, adoro contos de suspense, e esse não foi diferente! Adoreeeei!

    Um beijo grandããão!
    Cá do Aquela Princesa

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  14. Nossa adorei a sensação de tensão que esse conto passa, haha eu sou louca por historias de terror e mistério ♥

    http://gotasdecaffe.blogspot.com.br/

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  15. Nossa amei este post, primeiro que adoro qualquer coisa relacionada a terror, suspense e contos. Perco horas lendo sobre coisas assim. Este post é muito bom >.< Ahh boa sorte para ver Annabelle AUShauhsuahsuahsuahsu Beijocas =3

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    1. Obrigada ♥ Fico tão feliz por você ter amado! Eu perderia horas também, mas nunca encontro algo que me agrade. Inclusive, se tiver sugestões de sites com contos assim... Annabelle não teve nada demais, foi até previsível.

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  16. Eu assisti Annabelle domingo e achei que tomaria mais sustos, apesar de que na hora que o "demônio" para na escada e depois corre eu gritei tanto que meu namorado até brigou comigo, tenho pavor de filmes assim, não sei por qual motivo assisti...
    Gente do céu, não achei que terminaria assim, realmente me surpreendeu G_G
    Beijoos ♡ || Caramelos Encantados

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    1. Ahudhaudhaudhuahduahduah, eu não levei susto algum, na verdade, só gritei por diversão. Foi um filme bem divertido, não assustador. Essa foi a intenção, adhjauhduahdua :v

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  17. aaaaaaaah! que demais que trouxe esse ótimo conto pra gente! eu já sabia do final quando nos foi apresentado que o moço ai tinha "narcolepsia", mas não deixou de ser um bom conto! curti, curti, curti! eeeeeeeeeeee o/

    seu lobo,
    gabryel fellipe

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    1. Eu não sabia, audhaudhaudhauhduahudhaudha, cara, que merda isso, todos sabiam menos eu! Fico feliz que gostou :)

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